quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Manejo do Pirarucu na Reserva Extrativista do Médio Juruá




No dia 17 de Setembro Neguinho arpoou o primeiro do que seria uma série de 168 pirarucus retirados do lago do Manariã, comunidade do São Raimundo, na Reserva Extrativista do Médio Juruá, no estado do Amazonas. A despesca realizada por 21 pescadores da Comunidade durante os três dias que se seguiram ao abate do primeiro peixe é parte do Manejo do pirarucu promovido pela Associação dos Moradores Extrativistas da Comunidade de São Raimundo – Amecsara e pelo Instituto Chico Mendes, com o apoio do Conselho Nacional dos Seringueiros – CNS, da Associação dos Produtores Rurais de Carauari – Asproc, e da Secretaria Municipal de Produção Rural. Além de ter contribuído para geração de renda dos moradores, a atividade serviu para fortalecer a organização dos extrativistas e a noção de que usar os recursos de forma racional pode gerar benefícios  para as comunidades.
Apesar de proibida em todo o estado do Amazonas, a despesca do pirarucu é permitida em terras indígenas, reservas extrativistas e reservas de desenvolvimento sustentável, e de acordo com normas de manejo. Na Resex do Médio Juruá, os moradores vêm realizando contagens anuais nos lagos localizados dentro doslimites da unidade desde 2005, seguindo prática tradicionalmente realizada por  pescadores da região do Médio Solimões e sistematizada por técnicos da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.
Ao longo dos anos, as variações do estoque pesqueiro de cada uma das áreas foram monitoradas  e discutidas entre os moradores. O aumento no número de peixes pela proteção dos lagos foi uma condicionante chave para permitir a pesca da espécie nas áreas manejadas. Como houve incremento no número de indivíduos, a comunidade demandou ao Instituto Chico Mendes despesca de 30% do estoque levantado.
Estudantes do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do campus avançado da Universidade do Estado do Amazonas no Município de Carauari
e egressos do curso técnico florestal do Instituto Federal do Amazonas participaram da contagem, despesca e comercialização do pescado. A experiência representou uma oportunidade de associar o conhecimento teórico com uma atividade prática de manejo. “Para nós, essa iniciativa do ICMbio é importante por criar capacidade para que num futuro próximo essas unidades possam ser geridas por profissionais locais e com uma compreensão melhor da realidade de Carauari. Além disso assegura a continuidade das ações do Instituto ``, diz Givanildo Freitas da Silva, estudante do Curso de Gestão Ambiental.
Após a despesca e o transporte, o pescado foi todo comercializado na sede do município de Carauari. A decisão foi tomada pela Amecsara e teve como objetivo permitir que os associados vivenciassem uma experiência de comercialização da produção extrativista  em escala menor, diante de um mercado menos exigente e no qual a venda estivesse assegurada. Um segundo objetivo foi permitir que os munícipes pudessem ter acesso aos recursos produzidos na reserva extrativista e percebessem que ter uma unidade de conservação no município traz benefícios não apenas para os usuários diretos, mas para toda a população. “As pessoas reagiam com espanto ao nos ver vendendo pirarucu com o apoio do pessoal do ICMbio.Eles achavam que a reserva era só para guardar``, diz José Maic Ferreira de Menezes, presidente da Amecsara.
O manejo e a comercialização dos pescado no município estabelece uma mudança nas relações entre os moradores da sede e as comunidades ribeirinhas. “Os seringueiros nunca foram vistos como atores sociais relevantes no âmbito municipal. As relações de poder estão estruturadas da mesma forma que no seringal seringalistas e seringueiros ocupam as mesmas posições que ocupavam a 20 anos atrás e há pouca mobilidade social e política. A comercialização de um produto como o pirarucu no município lhes confere capacidade para determinar uma nova dinâmica. Ouvir uma liderança dizer que independentemente de quem seja, todos que quiserem comprar pirarucu devem ir para a fila é emblemático, diz o analista ambiental do ICMbio, Leonardo Pacheco.
A chefe da Resex do Médio Juruá, Rosi Batista, faz uma retrospectiva dos fatos que levaram ao manejo do pirarucu na UC: “O sucesso do Manejo dom pirarucu é fruto do trabalho que iniciamos na época do CNPT.Quando tínhamos um grupo no estado que pensava as reservas de forma conjunta, nós já idealizávamos a possibilidade de fazer essa atividade dar certo aqui. Começamos nas reservas extrativistas do Auat-Praná, Rio Jutaí e Baixo Juruá, mas sentimos que tínhamos uma lacuna por não conseguir fazer isso dar certo aqui na Resex do Médio Juruá. Hoje, sinto que estávamos no caminho certo. Sinto uma enorme sensação de realização.
Vale ressaltar, que a Prefeitura Municipal de Carauari, Adm. Francisco Costa e Suzy, através da Secretaria Municipal de Produção e Abastecimento, Secretária Ione Pereira papel importante na realização da pesca, garantiu a logística necessária neste 1º momento disponibilizando os barcos para armazenamento e transporte do pescado, divulgação e organização da I Feira do Pirarucu Manejado, o gelo necessário (cerca de 15 toneladas), enfim, grande parte da logística necessária para a execução da atividade.
“Carauari comemorou o seu centenário com uma brilhante atividade, proporcionando aos seus munícipes um fato que a população não acreditava ver acontecer em Carauarí``, comentou o prefeito Francisco Costa dos Santos.     
Além de servir de modelo para outras comunidades, a I Feira do Pirarucu manejado garantiu à população local o acesso ao consumo de forma legalizada e o mais importante, todo direcionado dentro do próprio município, destacou a secretária Ione Pereira.       
           

Um comentário:

  1. Parabéns sec Ione, é uma pena que eu José luiz lima natural de Carauari esteja um pouco distante(caracarai-roraima)más, preso por este lugar acreditando no seu potencial sustentável e no seu desenvolvimento. abraços a comunidade carauariense.

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